Nesses últimos dias Fraiburgo está linda, as árvores coloridas e as temperaturas agradáveis (por lo menos por enquanto). Abaixo está o carro de um tchô comprometido com os pedidos da comunidade para evitar o esbanjamento de água (desperdício). Não pude deixar de compartilhar. Antes da foto a frase tinha um errinho de Fraiburguês na palavra “PARTE”, faltava o acento agudo no “R”. Agora, olhando com mais calma notei que ainda está faltando um acento circunflexo “^”. O Fraiburguês culto, foneticamente falando, permite que algumas palavras tenham duas silabas tônicas como em “paRtê – “quaNtÔ” – “verdAdÊ” e assim por diante. Piazada, vamos cuidar dos desperdícios! Chega de tomá banho hehe opa, nem taNtô!
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O canto do Bem-te-vi
Traduzir “saudades” é fácil, tenta traduzir “Bardoso”
Apesar de ser um conceito facilmente utilizado e interpretado pelas pessoas “fraiburgófonas” (falantes do Fraiburguês), “Bardoso” é uma das palavras mais difíceis, pelo menos até agora, de traduzir do Fraiburguês para o Português, pois é um termo que remete a um estado de espírito profundo, um jeito de ser ou estar bastante comum e sem uma palavra equivalente no universo lingüístico conhecido, nem “manhoso(a)”, “dengoso(a)”, “mandrião(ona)” ou mesmo “teimoso”, juntos se equivalem a um “bardoso” bem pronunciado e contextualizado.
Pois bem, Bardoso é um adjetivo. Ex. “O piá é bardoso” ou “piá bardoso”. Raramente se vê este adjetivo flexionado no plural. Ex. “Vocês são uns bardoso”. Bardoso se refere ao sujeito do tipo tchô, tchoa (bardosa), piá ou menina que tem preferência à posição horizontal ou escorada em alguma coisa para evitar, sempre que possível, a fadiga. Estes indivíduos são otimizadores de recursos físicos por natureza, gerando quase um estilo de vida atônomo. Má vamo se combiná, quem de tanto não gostaria de levar uma vida bardosa?
Diferentemente de “dorminhoco(a)” que não se usa no diminutivo (dorminhoquinho(a)), existe o “bardosinho e a bardosinha” para indivíduos (pessoas ou animais) de pequeno porte ou muito dengosos. Ex. Um tchô pode identificar o mais preguiçoso de uma ninhada como o bardozinho – “Ó tá vendo que aquele bardozinho alí?”. Ainda, o antônimo (oposto) de bardoso é “atentado”. Ex. “Home do céu, aquele piá é atentado… dzulivre…”
Bardosos tem as seguintes características existenciais:
– Auto-estima elevada, que pode ser confundida com falta de vergonha;
– Surdez seletiva que permite ouvir apenas o que se quer e bloquear chamados;
– Preguiça ou desinteresse de fazer alguma coisa que foi ordenada;
– Jeito manhoso e dengoso (alguns casos), podendo até ser chamado de “jaguarinha” (essa é outra palavras difícil de explicar)
Bardoso não existe nos dicionários mais abrangentes da língua portuguesa, se acharam me avisem! Etimologicamente falando, o que parece, no entanto, é que antes ser definitavamente incorporado ao idioma de Fraiburgo, ele já era usado como adjetivo para os cavalos (baldoso), mas como em Fraiburgo tudo que tem “L” vira “R” temos também (culpa = curpa, malvado = marvado, folgado = forgado) e assim por diante.
De sua origem, até onde sei, existem duas frentes.
Primeira,
Eu lembro que meus primos diziam para não deixar o cavalo (petiço) comer o mato enquanto ele estivesse nos esperando, se não ele iria ficar bardoso (mal acostumado). Bardoso é alguém com barda, “não de barda para não ficar bardoso”.
Segunda,
O termo é usado para identificar qual cavalo trabalha menos e faz mais pose quando precisa puxar a carroça. Com o tempo o cavalo bardoso percebe que se ele parar de fazer força o outro cavalo fará o esforço compensatório para dar conta do trabalho, ao passo que ele só faz pose e caminha normalmente. O tchô que os coordena, por sua vez, precisa ficar de olho para o rendimento da carroça. Isso serve também para os gestores de empresas que precisam gerenciar suas empresas por indicadores ara detectar o bardosismo na empresa, o que em alguns casos pode ser contagioso. Em resumo, “bardoso é um sujeito que não se sujeita”.
Seguem alguns exemplos contextualizados:
Tentando tirar alguém da cama sem sucesso:
– “Mazé um bardoso mesmo”. Em resposta, o bardoso(a) apenas vira pro lado e continua capotado.
Negociado um grupo de trabalho na universidade.
– Vocês vão pegar o tchô tal (notoriamente bardoso) para o grupo de vocês.
Resposta
– Mas pare home!!! esse tchô é muito bardoso – Largue mão!!!
Mais exemplos? só no Frai mesmo…
Finalizando, ainda existe também o verbo “bardozear”. Ex: “Estávamos só bardozeando”
e o advérbio “bardozamente”. Ex: Eles caminham bardosamente ao redor do lago”.
O Dialeto Fraiburguês 04
Nesta última visita a Fraiburgo acabei absorvendo tanta informação que está sendo um luta para destrinchar tudo, ainda vai um tempo para digerir tanta coisa, mas mesmo assim vamos lá. Quando conversava com meu sobrinho 4 anos que já se comunica muito bem em Fraiburguês, mudei o sotaque da conversa para o Manezês de Floripa e ele prontamente, após uma cara de estranheza, respondeu: “Pare tio, eu não intendo inglês”. Foi pra acabá 🙂 Realmente as diferenças são grandes tanto em sonoridade como em velocidade, mentalidade e uso de termos.
Nas outras interações que tive, com pessoas mais especializadas no uso do Fraiburguês, pude mapear mais uma boa porção de novas e velhas expressões. Claro que as vezes a sequência era tanta que quase não tinha tempo para anotar no caderninho. Também aconteceu de algumas pessoas ficarem ressabiadas de falar, mas depois das cervejas não teve quem não entrasse na brincadeira de auto descobrimento cultural. Bom, segue a quarta página do dicionário aleatório do Fraiburguês oficial.
Contribution for this edition / Colaboradores dessa edição:
Ivadir dos Santos (my father/ meu pai), Marcos Xavier e Laís Frey.
Mapa dialetal de Santa Catarina
Falando com as pessoas sobre a cultura de Santa Catarina, é muito comum ouvir algo dos manezinhos do litoral e da cultura gaúcha do resto do estado, a qual eu discordo prontamente porque apesar do chimarrão o meio oeste de Santa Catarina está voltado muito mais para o Paraná do que para o Rio Grande. Isso pode ser melhor demostrado com o mapa qualitativo dos sotaques Catarinenses. A propósito, gostaria de agradecer as pessoas que contribuíram direta ou indiretamente para chegarmos neste mapa.
Ao invés de dividirmos o estado em dois, devemos olhar para ele como o estado Brasileiro que apesar de pequeno é o mais culturalmente diverso. Como resultado temos uma economia diversificada a ponto de ser o único estado que poderia existir autonomamente em relação aos recursos naturais e humanos.
Eu tentei desenhar esse mapa porque antes de me mudar para Florianópolis para dar continuidade aos meus estudos, eu não esperava sofrer choques de realidade tão grandes. É impressionante como as coisas podem mudar quando pulamos de uma área dialetal para outra. Na capital tive que aprender na marrar não apenas o conteúdo das disciplinas da universidade, mas também uma outra língua e ainda me adaptar com uma mentalidade diferente em relação a vida, trabalho, descanso, investimentos e etc.
A área vermelha é onde os tchôs e as tchoas estão no comando. Logicamente Fraiburgo está no epicentro do dialeto Fraiburguês. Vale notar que, em algumas partes, ele deixa de ser puro ao mesclar-se com o dialeto serrano de Lages e gringonês do oeste. Ainda, este sotaque está vinculado ao estado do Paraná até chegar em Curitiba como um R bem forrrrrte e a letra “E” de “gentE” sendo pronunciado como “E” e não como “I”. Sim, algumas palavras são emprestadas dos gauchês, mas mesmo assim não se utiliza por exemplo a palavra “Guri”. O correto é usar “piá ” ou “tchozinho” e assim vai…
No extremo oeste (verde), existe uma tremenda influência da colonização Italiana que chegou ao Brasil falando uma série de dialetos italianos que nem eles podiam se entender antes de usar o português. Nesse pedaço de chão a gringaiada aprendeu o português dando vida ao “gringonês” que funciona muito bem. Na outra área verde, no sul do estado, a colonização é também predominantemente italiana, mas dizem que não utilizam o gringonês puro de Chapecó. Por alguma razão desconhecida meus amigos de Criciúma, Tubarão se negam a falar comigo usando seu sotaque nativo de lá. Resultado, enquanto eu não visitar o lugar e ouvir o sotaque deles pessoalmente este dialeto é indeterminado.
Pulando agora para a galera da área azul. Essa região é onde a cultura alemã com seu jeitão compassado deu origem a um português teutônico muito interessante, principalmente nas cidades de Timbó, Pomerode e Benedito Novo. Se tiverem a oportunidade de falar com alguém de lá, peça para eles falarem a seguinte frase. “Cara, comprei um jeep cara. É um LandRover novinho que eu uso só pra tacar nos areião” (Contribuição do Gedson Jung).
- Soa cantado
- É muito rápido
- Frases curtas são repetidas
- É engraçadíssimo
- A conversação acontece um tom acima do tom normal.
- O tom desafina para cima no final das frases longas.
- As vogais tem um som diferente, meio fanho. Este som junto com o aumento do tom da fala da um efeito de “vogal tunada” especialmente em Florianópolis.
- A letra “R” segue o padrão francês.
- O verbos no tempo passado são – Cortasse – Trabalhasse – falasse , e etc.
- Infelizmente, está entrando em extinção devido as massas migratórias e motivos econômicos.
Bom pessoal, não deixem de comentar sobre suas experiências com relação a esse mapa para que a próxima versão seja mais precisa, eu vou continuar prestando atenção nas próximas mudanças pois é um tema no qual sou fascinado.
Verbos Fraiburguêses
Na grande maioria dos idiomas indo-europeus, que é onde se encaixa o dialeto Fraiburguês, houveram sistematizações importantes ao longo dos últimos séculos para facilitar o aprendizado, desenvolvimento e sobrevivência de cada língua. Como todos sabem, os verbos servem para indicar uma ação, estado ou fenômeno da natureza e estes como parte fundamental da língua foram simplificados e classificados. Abaixo seguem alguns exemplos de sistematizações de verbos infinitivos:
- No português e espanhol os verbos infinitivos terminam em “AR” “ER” “IR” – Amar, falar, hablar, sorrir e etc.
- No italiano basta adicionar um “E” depois da letra “R”. Ex. “Amar – Amare” – “Cantar – cantare “, mas atenção, muitos verbos italianos podem ter radicais diferentes do português. O foco aqui é apenas demonstrar a terminação.
- No inglês usa-se a partícula “TO” na frente do verbo. Ex. “to go – ir”,”to speak – falar “, “to close – fechar”.
- Nas línguas germânicas com é o caso do alemão e holandês, os verbos infinitivos terminam em “EN”. Ex: Em Holandês “caminhar – lopen”, “Comer – eten”, “dormir – slapen” e assim vai.
Então como seriam os verbos infinitivos no dialeto Fraiburguês? Até o momento, tenho notado que existe uma tendência forte do cidadão Fraiburguense em sumir com a letra “R” do verbo, transformando-o em um acento na última silaba. A pronuncia é feita com a boca bem aberta e em um tom quase estralado de modo que todos entendam a ação do Fraiburguense. Ex. Eu vou caminhá – conversá – repartí – atorá no meio – corrê – fugí – me negá e assim por diante.
Se a palavra posterior ao verbo infinitivo necessitar do artigo “A”, este será sumariamente excluído bem como as letras que aparecem de varde na frase. Por exemplo, “Eu vou enxugar a louça” – no dialeto ficaria mais ou menos assim: “Eu vo enxugá loça”. Notem o sumiço da letra “U”. Além disso, em alguns casos, é também possível transformar a frase numa só palavra sem perder o sentido, acelerando a comunicação e o entendimento mútuo Fraiburguense. Ex. “voenxugaloça”. Esta última modalidade é bastante comum porém recomenda-se utilizar apenas entre pessoas com mais de 10 anos de experiência (Não tente isso em casa).
Bueno piazada, por hoje é isso, o dicionário segue a diante. De agora em diante notem a emergência desses padrões nas suas conversas em Fraiburguês. Boa sorte! Ah! Antes que eu esqueça, tenho uma observação importante, brinquem, testem, reflitam sobre nossas expressões mas não deixem de levar a sério o Português, Inglês e Espanhol. Estas são as primeiras pontes que conectam os Fraiburguenses ao mundo fora de Fraiburgo!
Saudações Fraiburguenses.
O Dialeto Fraiburguês 01
Nos últimos 100 anos, a região de Fraiburgo já presenciou o uso de pelo menos seis idiomas (Português, Italiano, Polonês, Alemão, Francês e o Tupi-guarani). Hoje o Português (língua vernácula) foi consolidada, porém, toda vez que retorno para Fraiburgo tenho vários choques culturais reversos, principalmente com relação a língua (Fraiburguês). Esse tipo de choque acontece quando você se depara com uma realidade da qual você já fez parte, provocando uma efervescência inexplicável emoções. No meu caso, queria dizer que ri muito editando e conversando com os Fraiburguenses sobre esse jeito de se falar em Fraiburgo. Na tabela vão as primeiras expressões que me chamaram a atenção.
Observações:
- O dicionário Fraiburguês está sendo criado é composto de palavras e expressões que forma aleatória e sem classificação assim como acontece na vida real de um Fraiburguense.
- O dialeto de Fraiburgo é compartilhado principalmente pelas cidades da região sul do Brasil, porém, podem haver expressões compreendidas a nível nacional. Só com a maturidade desse projeto poderemos identificar o que é exclusivamente Fraiburguense.
- Em Fraiburgo se toma chimarrão, bebida típica da cultura gaúcha, no entanto o sotaque não é parecido ao sotaque gaúcho.
- Fraiburgo, assim como o resto do país, possui várias classes sociais e etnias o que gera uma grande variação vocabular.
- Este blog estará sempre sujeito a correções gramaticais.