Nesta última visita a Fraiburgo acabei absorvendo tanta informação que está sendo um luta para destrinchar tudo, ainda vai um tempo para digerir tanta coisa, mas mesmo assim vamos lá. Quando conversava com meu sobrinho 4 anos que já se comunica muito bem em Fraiburguês, mudei o sotaque da conversa para o Manezês de Floripa e ele prontamente, após uma cara de estranheza, respondeu: “Pare tio, eu não intendo inglês”. Foi pra acabá 🙂 Realmente as diferenças são grandes tanto em sonoridade como em velocidade, mentalidade e uso de termos.
Nas outras interações que tive, com pessoas mais especializadas no uso do Fraiburguês, pude mapear mais uma boa porção de novas e velhas expressões. Claro que as vezes a sequência era tanta que quase não tinha tempo para anotar no caderninho. Também aconteceu de algumas pessoas ficarem ressabiadas de falar, mas depois das cervejas não teve quem não entrasse na brincadeira de auto descobrimento cultural. Bom, segue a quarta página do dicionário aleatório do Fraiburguês oficial.
English
Brazilian Portuguese
Fraiburguese – Fraiburguês
Tell me
Diga
Digue
To vary
Variar
Vareiá
Ex. Isso vareia de lugar pra lugar.
Making a mess
Fazendo bagunça
Bagunciando
Money
Dinheiro
Tutu, tufo, barão e pila
Ex. Tá co tufo tchô
To annoy
Irritar
Sarniá. O piá ou a menina que sanieia é amplamente conhecido como “sarna”.
Ex. Mas é um sarna veio, não tem o que fazer dai fica aqui sarniando a gente. Vai achar um lote pra carpí…
To calm down
Ficar tranquilo
Sossegá o facho
Ex. Piáááá, pare de sarniá e sossegue o facho.
On the run
Em fuga
Ó por aqui – Pra capturar esse termo não foi fácil, ele quase que “ó por aqui”. Foi difícil até para entender o significado mesmo entendo a frase.
To reprehend
Repreender
Dar um pito
Ex. A gente tava tudo facero quando um tchô
chego e deu um pito ne nóis…Dai nóis ó por aqui…
Salary
Salário
Faz me rir (esse me fez rir mesmo hehehe)
Source/Fonte: LANOFRAI.COM.BR
Contribution for this edition / Colaboradores dessa edição:
Ivadir dos Santos (my father/ meu pai), Marcos Xavier e Laís Frey.
Falando com as pessoas sobre a cultura de Santa Catarina, é muito comum ouvir algo dos manezinhos do litoral e da cultura gaúcha do resto do estado, a qual eu discordo prontamente porque apesar do chimarrão o meio oeste de Santa Catarina está voltado muito mais para o Paraná do que para o Rio Grande. Isso pode ser melhor demostrado com o mapa qualitativo dos sotaques Catarinenses. A propósito, gostaria de agradecer as pessoas que contribuíram direta ou indiretamente para chegarmos neste mapa.
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Ao invés de dividirmos o estado em dois, devemos olhar para ele como o estado Brasileiro que apesar de pequeno é o mais culturalmente diverso. Como resultado temos uma economia diversificada a ponto de ser o único estado que poderia existir autonomamente em relação aos recursos naturais e humanos.
Eu tentei desenhar esse mapa porque antes de me mudar para Florianópolis para dar continuidade aos meus estudos, eu não esperava sofrer choques de realidade tão grandes. É impressionante como as coisas podem mudar quando pulamos de uma área dialetal para outra. Na capital tive que aprender na marrar não apenas o conteúdo das disciplinas da universidade, mas também uma outra língua e ainda me adaptar com uma mentalidade diferente em relação a vida, trabalho, descanso, investimentos e etc.
A área vermelha é onde os tchôs e as tchoas estão no comando. Logicamente Fraiburgo está no epicentro do dialeto Fraiburguês. Vale notar que, em algumas partes, ele deixa de ser puro ao mesclar-se com o dialeto serrano de Lages e gringonês do oeste. Ainda, este sotaque está vinculado ao estado do Paraná até chegar em Curitiba como um R bem forrrrrte e a letra “E” de “gentE” sendo pronunciado como “E” e não como “I”. Sim, algumas palavras são emprestadas dos gauchês, mas mesmo assim não se utiliza por exemplo a palavra “Guri”. O correto é usar “piá ” ou “tchozinho” e assim vai…
No extremo oeste (verde), existe uma tremenda influência da colonização Italiana que chegou ao Brasil falando uma série de dialetos italianos que nem eles podiam se entender antes de usar o português. Nesse pedaço de chão a gringaiada aprendeu o português dando vida ao “gringonês” que funciona muito bem. Na outra área verde, no sul do estado, a colonização é também predominantemente italiana, mas dizem que não utilizam o gringonês puro de Chapecó. Por alguma razão desconhecida meus amigos de Criciúma, Tubarão se negam a falar comigo usando seu sotaque nativo de lá. Resultado, enquanto eu não visitar o lugar e ouvir o sotaque deles pessoalmente este dialeto é indeterminado.
Pulando agora para a galera da área azul. Essa região é onde a cultura alemã com seu jeitão compassado deu origem a um português teutônico muito interessante, principalmente nas cidades de Timbó, Pomerode e Benedito Novo. Se tiverem a oportunidade de falar com alguém de lá, peça para eles falarem a seguinte frase. “Cara, comprei um jeep cara. É um LandRover novinho que eu uso só pra tacar nos areião” (Contribuição do Gedson Jung).
Soa cantado
É muito rápido
Frases curtas são repetidas
É engraçadíssimo
A conversação acontece um tom acima do tom normal.
O tom desafina para cima no final das frases longas.
As vogais tem um som diferente, meio fanho. Este som junto com o aumento do tom da fala da um efeito de “vogal tunada” especialmente em Florianópolis.
A letra “R” segue o padrão francês.
O verbos no tempo passado são – Cortasse – Trabalhasse – falasse , e etc.
Infelizmente, está entrando em extinção devido as massas migratórias e motivos econômicos.
Bom pessoal, não deixem de comentar sobre suas experiências com relação a esse mapa para que a próxima versão seja mais precisa, eu vou continuar prestando atenção nas próximas mudanças pois é um tema no qual sou fascinado.
Os sotaques e expressões populares são bombas de cultura concentrada que espalham estilhaços em todas as direções…
Já que o google não é capaz ainda de traduzir nosso dialeto, vou fazer uma tradução aproximada das frases enviadas pelo Fábio Faquin. Obrigado pela contribuição. Tive que pesquisar algumas palavras e peço desculpas por erros de interpretação. Se alguém quiser fazer outras interpretações fiquem a vontade para entrar na roda.
Hóme do céu… Não da pra ficá “se bostiando”… tende juntá a “catrefada” e campiá umas palavra de “revesgueio”. Ponheiei aí… antes que alguém fique “invaretado” … É bom dar os créditos certo pra não “ingrupi”ninguém, mas sem “inticá”os piá, senão vai dá o maior “intrevero”. Vai ficá ïntuiado”de palavra.
Amigo,
Não podemos nos “dar ao luxo de não fazer nada”. Temos que reunir o “pessoal” para buscarmos outras palavras que estão por ai a nossa volta. Coloque-ás no lugar certo antes que alguém fique reclamando. É bom atribuir os créditos para que nínguem seja enganado, no entanto cuidado para não provocar nínguem se não teremos uma grande discussão. Em breve teremos muitas palavras.
“Má largue mão Hóme… seje bobo… Ahh se fizer frio tem que “pidi” uma “Japona”… não vai ficá pestiado… hahaha.. .Tem muitas expressões… da pra se ïntertê” tipo bixo…”
Então amigo, não percas tempo, não sejas tolo. Se fizer frio, pedirei uma jaqueta para não adoecer. Com todas esssas expressões podemos nos divertir muito!
English
Brazilian Portuguese
Fraiburguese – Fraiburguês
Anything of poor
quality that breaks when needed or has lower quality when compared to something that belongs to you.
Qualquer coisa que não funciona quando se precisa ou tem qualidade inferior a alguma coisa que você possua.
“Bichera!” Ex. “Esse carro é uma bichera!”. Aquilo é uma Bichera nem perda tempo!
Get out of the bus
Sair do ônibus
Apiá do ônibus. *Também se usa para sair do cavalo.
Sudenly
Instantaneamente
De vereda * O tchô deu um susto ne nóis quando entrô de vereda na combi. Ai falei “se enchergue home, óie que te prego a mão no ovido“. (to rindo sozinho)
Watch out!
Preste atenção
Se ligue piá!
Don’t be stupid!
Não seja tolo!
Seje bobo!
No way
De jeito nenhum.
Mascredo (piá, tchô ou muié).*Não aceita a palavra tchoa.
I ask
Eu peço
Eu pido! *Vai no mesmo embalo do eu mido.O indivíduo que pede muito é conhecido como piduncho! Ex. Mas é um piduncho véio mesmo esse tchô!
Na grande maioria dos idiomas indo-europeus, que é onde se encaixa o dialeto Fraiburguês, houveram sistematizações importantes ao longo dos últimos séculos para facilitar o aprendizado, desenvolvimento e sobrevivência de cada língua. Como todos sabem, os verbos servem para indicar uma ação, estado ou fenômeno da natureza e estes como parte fundamental da língua foram simplificados e classificados. Abaixo seguem alguns exemplos de sistematizações de verbos infinitivos:
No português e espanhol os verbos infinitivos terminam em “AR” “ER” “IR” – Amar, falar, hablar, sorrir e etc.
No italiano basta adicionar um “E” depois da letra “R”. Ex. “Amar – Amare” – “Cantar – cantare “, mas atenção, muitos verbos italianos podem ter radicais diferentes do português. O foco aqui é apenas demonstrar a terminação.
No inglês usa-se a partícula “TO” na frente do verbo. Ex. “to go – ir”,”to speak – falar “, “to close – fechar”.
Nas línguas germânicas com é o caso do alemão e holandês, os verbos infinitivos terminam em “EN”. Ex: Em Holandês “caminhar – lopen”, “Comer – eten”, “dormir – slapen” e assim vai.
Então como seriam os verbos infinitivos no dialeto Fraiburguês? Até o momento, tenho notado que existe uma tendência forte do cidadão Fraiburguense em sumir com a letra “R” do verbo, transformando-o em um acento na última silaba. A pronuncia é feita com a boca bem aberta e em um tom quase estralado de modo que todos entendam a ação do Fraiburguense. Ex. Eu vou caminhá – conversá – repartí – atorá no meio – corrê – fugí – me negá e assim por diante.
Se a palavra posterior ao verbo infinitivo necessitar do artigo “A”, este será sumariamente excluído bem como as letras que aparecem de varde na frase. Por exemplo, “Eu vou enxugar a louça” – no dialeto ficaria mais ou menos assim: “Eu vo enxugá loça”. Notem o sumiço da letra “U”. Além disso, em alguns casos, é também possível transformar a frase numa só palavra sem perder o sentido, acelerando a comunicação e o entendimento mútuo Fraiburguense. Ex. “voenxugaloça”. Esta última modalidade é bastante comum porém recomenda-se utilizar apenas entre pessoas com mais de 10 anos de experiência (Não tente isso em casa).
Bueno piazada, por hoje é isso, o dicionário segue a diante. De agora em diante notem a emergência desses padrões nas suas conversas em Fraiburguês. Boa sorte! Ah! Antes que eu esqueça, tenho uma observação importante, brinquem, testem, reflitam sobre nossas expressões mas não deixem de levar a sério o Português, Inglês e Espanhol. Estas são as primeiras pontes que conectam os Fraiburguenses ao mundo fora de Fraiburgo!
Saudações Fraiburguenses.
English
Brazilian Portuguese
Fraiburguese – Fraiburguês
I measure
Eu meço
Eu mido!sugerida por – Iole Dahmer(ainda estou chocado)
I go on foot
Eu vou a pé!
Eu vou de a pé.Ex. “Dexe que eu vo de a pé”*Já pegaram muito no meu pé por essa. Hoje isso seria pratica de bulling 🙂
Something that is bizarre
Algo que é bizarro
Medonho!
To lose badly or be prevailed over another to a great degree, usually ina some form of competition or verbal disagreement
– Perder por umagrande diferença de modo a passarvergonha.
– Levá um vareio– Tomá um vareio
To win over another to a great degree
– Vencer com folga– Ganhar com folga
“Matá pau!”*Literaly meansto kill with a stick, which is
more macho than killing with
a gun or a bazuca.
* Demonstração de valentia no linguajar Fraiburguense é item obrigatório, se não vai pro laço.
Lazy person
Preguiçoso
Canela grossa.*Pessoa do tipo tchô ou tchoaindisposta ao trabalho.Ex. Mazé um canela grossa mesmo.*Literaly means “thick calf of the leg”
Suspicious
Desconfiado
Resabiado
Imagine!
Imagine!
Mas pense!
To throw away
Jogar fora
Pinxá fora.(Clássica – Sugerida por Jaqueline Cunha e Naiara Longhi)*In the top ten funny expressions!
Nos últimos 100 anos, a região de Fraiburgo já presenciou o uso de pelo menos seis idiomas (Português, Italiano, Polonês, Alemão, Francês e o Tupi-guarani). Hoje o Português (língua vernácula) foi consolidada, porém, toda vez que retorno para Fraiburgo tenho vários choques culturais reversos, principalmente com relação a língua (Fraiburguês). Esse tipo de choque acontece quando você se depara com uma realidade da qual você já fez parte, provocando uma efervescência inexplicável emoções. No meu caso, queria dizer que ri muito editando e conversando com os Fraiburguenses sobre esse jeito de se falar em Fraiburgo. Na tabela vão as primeiras expressões que me chamaram a atenção.
English
Brazilian Portuguese
Fraiburguese – Fraiburguês
How are you?
– Como vai?
Bão?*Para qualquer gênero ou idade.
*The pronunciation of “ão” is
the similar to letters “ou”
in the word “sound”.
-A Guy
-A little guy
– A group of guys
– Um Rapaz
-Um Rapazinho
– Rapaziada
-Um tchô.
-Um tchozinho.
-Tchozedo
A girl
Uma moça.
Uma tchoa.
Where is it?
Onde está?
Cadele?
Lock the door
Trancar a porta
Chaviá porta.
To put
Colocar
Ex. – Onde eu coloco?
Ponhar
Ex. -Onde eu ponho?
Fast
Rápido
Ex. Vai lá rápido!
Ligero
Ex. Vai lá ligero!
The Boy(s)
O(s) Menino(s)
O(s) Piá -*A palavra piá não aceita plural.
O conjunto de piá é “piazada”.
To be looking at
Estar olhando
– Estar de butuca
– Estar negaciando
To jump the queue
Furar a fila
Atorar a fila.
*Essa é até meio agressiva.
* Pronuncia-se “atorá fila”
Dry the dishes
Secar a louça
Enxugá loça.
To look for
Procurar
– Percurá
– Campiá
Observações:
O dicionário Fraiburguês está sendo criado é composto de palavras e expressões que forma aleatória e sem classificação assim como acontece na vida real de um Fraiburguense.
O dialeto de Fraiburgo é compartilhado principalmente pelas cidades da região sul do Brasil, porém, podem haver expressões compreendidas a nível nacional. Só com a maturidade desse projeto poderemos identificar o que é exclusivamente Fraiburguense.
Em Fraiburgo se toma chimarrão, bebida típica da cultura gaúcha, no entanto o sotaque não é parecido ao sotaque gaúcho.
Fraiburgo, assim como o resto do país, possui várias classes sociais e etnias o que gera uma grande variação vocabular.
Este blog estará sempre sujeito a correções gramaticais.